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Afinal, a dívida do São Paulo está caindo ou continua aumentando? Uma análise do endividamento bancário.


Imagine que você vai realizar a compra de uma geladeira de R$1.000,00 reais e tenha exatamente essa quantia em sua conta corrente. A loja em que você está comprando a geladeira te dá duas opções para quitar o débito: realizar o pagamento à vista ou em 24 parcelas. 

Caso opte pela primeira opção, você utilizará todos os seus recursos e não terá mais dinheiro para honrar com outros compromissos, como a conta de luz. Por outro lado, se escolher a segunda alternativa, você estará alongando sua dívida, fazendo com que uma dívida imediata se transforme em uma dívida que pode ser paga em mais prestações e permitindo que gaste o dinheiro disponível em sua conta corrente com outras coisas, como a conta de luz.

Agora, vamos trazer esse exemplo para o mundo futebolístico. Imagine que você tenha uma dívida imediata de R$22,5 milhões pela aquisição de um atleta chamado Tchê-Tchê, com possibilidade de sanções esportivas, e hipoteticamente tenha esses mesmos R$22,5 milhões em sua conta. 

Na primeira opção, você pode pagar essa dívida, utilizando todos os seus recursos e ficando impossibilitado de pagar novas despesas, como por exemplo o salário do elenco, ou, na segunda alternativa, pode realizar um empréstimo bancário, a ser pago em 24 parcelas, mas que te permitirá quitar imediatamente a dívida com o Dinamo Kiev e possibilitará que o dinheiro disponível na conta corrente seja utilizado para pagamento do elenco.

É essa mudança no “perfil da dívida” que o São Paulo, conforme informações do Presidente Julio Casares, tem tentado fazer: trocar dívidas que precisam ser pagas de forma imediata (algumas com possibilidade de sanções esportivas) por dívidas de longo prazo, gerando fôlego financeiro para o clube conseguir honrar com tais compromissos.

 

Endividamento bancário

Abaixo ilustramos, conforme último balanço publicado, o perfil da dívida do clube com instituições financeiras e fundos de investimento, especialmente em relação ao prazo em que o São Paulo precisará efetivamente desembolsar os recursos:


Ou seja, embora o São Paulo tenha aumentado o seu endividamento com instituições financeiras e fundos de investimento, o clube ganhou um fôlego financeiro pois se em 31/12/2020 mais de 80% de sua dívida venceria no prazo de um ano, esse percentual reduziu para 35% em 31/12/2021, com uma diminuição de quase R$60 milhões na dívida de curto prazo. 

Portanto, embora a dívida tenha aumentado, em teoria ela é mais fácil de ser paga e seu perfil não faz com que as receitas tenham que ser integralmente direcionadas apenas para pagamento de dívidas a vencer no curto prazo.

Isso é ilustrado também pelos dois maiores empréstimos bancários realizados ao longo de 2021, que ao final do ano representavam uma dívida de R$70,1 milhões (Banco Daycoval) e R$51,6 milhões (Banco Bradesco), mas cujos vencimento são respectivamente em março de 2025 e agosto de 2026.

 

Direitos Econômicos e Federativos e Intermediações

Além disso, o aumento no endividamento bancário em 2021 pode ser explicado pela necessidade de pagar não apenas os R$125,8 milhões em dívidas bancárias que venceram ao longo de 2021, mas também outras dívidas relacionadas a aquisição de direitos econômicos. 

Nesse caso, também havia um grande passivo de curto prazo, incluindo dívida de R$22,5 milhões da aquisição de Tchê-Tchê, R$10,5 milhões da aquisição de Tiago Volpi e R$9,8 milhões da aquisição de Pablo, as duas primeiras com potencial para causar sanções na FIFA: 


Também em relação a essas espécies de despesas, verificou-se uma diminuição de mais de R$55 milhões nos valores a vencer no curto prazo de um ano para o outro, representando um fôlego financeiro.


Conclusões

Assim, sujeito à confirmação com a publicação do Balanço de 2022, o que nos parece que tem sido feito pelo SPFC na gestão Casares é realmente uma mudança positiva no perfil da dívida, com a troca de compromissos de curto prazo por uma dívida de longo prazo, mais fácil de ser paga e que não estrangula o orçamento do clube.

Ressaltamos apenas que esse alongamento da dívida não necessariamente tem representado um alívio nas taxas de juros, como seria de se esperar. Embora o São Paulo, diferentemente do Corinthians, não divulgue as taxas de juros aplicadas a cada empréstimo, a informação divulgada no Balanço denota que a taxa média de atualização monetária saiu de 1,1% ao mês em 31/12/2020 para 1,2% ao mês em 31/12/2021. Ou seja, embora o endividamento tenha se alongado, aumentamos o endividamento total com instituições financeiras e as taxas aplicáveis estão maiores.

Aumentar o endividamento bancário e recorrer a empréstimos, como o SPFC fez em 2021, ao longo de 2022 e novamente nesse mês de março de 2023, não necessariamente é um sinal ruim se o objetivo é transformar dívida de curto prazo em uma dívida de mais longo prazo, como parece estar ocorrendo.

Falta, contudo, uma maior transparência da administração em relação a diversos aspectos, como as taxas de juros aplicáveis, valores dos empréstimos contraídos e como tais recursos estão sendo aplicados.

Além disso, nos preocupa notícias no sentido de que o clube continua devendo direitos de imagem para os atletas do elenco, o que significa que esse fôlego obtido com o alongamento da dívida não tem significado necessariamente um alívio no fluxo de caixa do clube e que segue havendo a necessidade de contrairmos empréstimos bancários não apenas para quitação de dívidas antigas (com a troca do perfil da dívida), mas também despesas recorrentes.

Seguiremos atentos para verificar se as promessas de campanha do Presidente Casares e as declarações recentes estão se cumprindo e realizaremos uma nova análise assim que às demonstrações financeiras  de 2022 forem divulgadas.


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Dentre os grandes, és o primeiro!

Escrito por: Filipe Lessa

Revisado por: Filipe Cunha

  


 

 

 

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