A LIBRA (Liga do Futebol Brasileiro) foi fundada em maio de 2022 originalmente por 8 clubes: Bragantino, Cruzeiro, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Ponte Preta e Santos e São Paulo. Posteriormente, recebeu a adesão de mais 9.
A LIBRA tem como objetivo a construção de um modelo de competição e organização do Campeonato Brasileiro, visando a diminuição do desequilíbrio financeiro que existe entre os clubes das séries A e B e ness último mês de março, os clubes se reuniram para apresentar os principais pontos do modelo para a criação da liga.
O que mais chama a atenção é a forma como seria feita a divisão dos valores relativos aos direitos de transmissão da competição: 40% de forma igualitária, 30% conforme performance e 30% relativos à audiência de cada clube, sendo que após cinco anos de transição, seria aplicado um patamar de, respectivamente 45%, 30% e 25%. O percentual relativo à performance, calculada pelo desempenho dos últimos 3 anos, daria maior previsibilidade e planejamento aos clubes, pois atualmente, quando um clube é rebaixado, o valor do ano seguinte é ínfimo perto do que era arrecadado quando o clube estava na principal divisão do futebol brasileiro.
E onde entraria o São Paulo nessa história?
É sabida que a disparidade de arrecadação de direitos de TV do São Paulo, em relação ao Flamengo e Corinthians é gigantesca. Em 2022, com pay-per-view (PPV) por exemplo, o Flamengo arrecadou R$160 milhões, o Corinthians R$110 milhões e o São Paulo apenas R$36 milhões. Ou seja, 5 vezes e 3 vezes menos que Flamengo e Corinthians, respectivamente.
De acordo com as estimativas apresentadas pela LIBRA, a previsão é que as receitas totais por clube aumentem e que essa disparidade diminua. Na simulação feita, tendo como base a audiência e a classificação de cada clube no Brasileirão de 2021, o Flamengo seria o líder de arrecadação, com R$398 milhões, seguido por Corinthians (R$354 milhões) e o São Paulo seria o terceiro, com R$305milhões. Pode-se verificar que a diferença para o Flamengo seria na casa dos R$100 milhões, mas percentualmente, esse gap seria de 25%.
A diferença entre o clube da Série A que mais receberia e o que menos receberia, conforme projeções, seria de 3,4 vezes mais, sendo que atualmente a diferença entre o Flamengo e o Cuiabá em termos de receita de PPV, por exemplo, chega a mais de 100 vezes.
Pode-se notar que esse incremento de receita aos cofres do São Paulo pode ser a oportunidade que o clube precisava para dar um passo a diante para que consiga sanar suas dívidas e formar times competitivos para fazer frente aos principais clubes da atualidade. Entretanto, com as péssimas gestões que estiveram à frente do time do Morumbi nos últimos anos, às quais colocaram o clube nessa situação delicada na qual se encontra, temos dúvidas se haveria um cenário positivo no clube, mesmo com esse incremento considerável de receita.
De que adianta aumentar a receita se não sabe como gastar. É preciso profissionalizar a gestão do futebol o quanto antes para que o clube esteja minimamente preparado para que os novos recursos possam ser alocados de forma eficiente. Assim como o São Paulo foi pioneiro no entendimento da Lei Pelé, e acabou saindo na frente dos demais montando o time base do Tri Mundial com baixíssimo custo com jogadores como Cicinho, Fabão, Josué, Mineiro, Danilo, Grafite, etc., o clube que estiver melhor organizado, poderá tirar vantagem, principalmente nesse início.
Pois, a receita do São Paulo irá aumentar, mas as dos demais clubes também, e nos últimos anos, temos visto muitos clubes com orçamento bem inferior ao São Paulo, mas com desempenho futebolístico muito superior ao tricolor por serem muito melhor organizados e estarem com as contas em dia. É preciso tomar cuidado com um cenário em que todos os clubes estarão com dinheiro em caixa, com potencial de inflacionar o mercado e fazer com o que o dinheiro escorra pelo ralo caso não haja cautela nos gastos e profissionalização da gestão.
Aproveitar o momento para serem discutidos tetos orçamentários de salários e direitos de imagens de atletas poderia ser uma solução, buscando uma maior competitividade e melhor eficiência no gasto do orçamento dos clubes, poderia ser uma medida interessante para debate.
Em resumo, todos esses valores só serão possíveis caso a proposta de compra dos direitos, a qual a liga diz que teria em mãos com o fundo dos Emirados Árabes Mubadala, se confirme. Outra questão que precisa ser endereçada é que nem todos os clubes concordam com os termos apresentados pela LIBRA. Em virtude desse desacordo, foi criada a Liga Forte Futebol (LFF), formada por 26 equipes, dentre elas, Internacional, Athletico-PR, Atlético MG e Fortaleza. Caso o impasse não seja resolvido, corre-se o risco de duas ligas ocorrendo simultaneamente, o que faria com que o “produto” futebol brasileiro perdesse força e interesse do mercado e, consequentemente, poderio financeiro a médio e longo prazo.
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