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Reforma, naming rights, shows, dívida, atrasos – Confira a nossa opinião sobre a última entrevista do presidente Casares

 No último dia 18 de fevereiro, foi publicada uma entrevista de Mônica Bergamo da Folha de São Paulo com o presidente Julio Casares, abordando inúmeros pontos interessantes que achamos que valem alguns breves comentários.

 

Reforma do estádio

Vamos fazer um grande projeto e trazer fundos de investimentos que serão nossos sócios por um tempo.

Eles vão recuperar os recursos na arrecadação dos eventos, na venda de alimentação e bebidas, nos jogos de futebol, na venda dos camarotes, das lojas, do naming rights. Eles vão ganhar dinheiro, e nós também. Mas ninguém vai mandar aqui. O dono será sempre o São Paulo, que vai ter autonomia e mando.

 

Foi publicado em diversos veículos no final de 2023 que  o São Paulo teria assinado um memorando de entendimentos com a WTorre, a qualse comprometeria a apresentar, até o meio do ano, um projeto que englobaria: (i) ampliação da capacidade do estádio para 85 mil pessoas para jogos e 100 mil para eventos, com extensão das cadeiras até próximo do campo; e (ii) criação de anfiteatro modular para 20 mil pessoas, para eventos sem impacto no gramado.

A obra custaria entre R$ 500 milhões e R$ 800 milhões (nesse último caso, se incluída cobertura parcial do estádio), e seria custeada pela WTorre que, em contrapartida, teria acesso a percentual das receitas geradas pelo estádio. E esse é o ponto principal para analisar se o negócio é benéfico ao clube ou não.

Foto: SPFC Play

Hoje o estádio gera bastante lucro. Contando a bilheteria de 2023, acordo com Live Nation e naming rights, há um potencial de mais de R$ 150 milhões de receita por ano.

Quanto disso o clube abriria mão para ter uma reforma estimada em R$ 500 milhões? E quanto essa reforma pode gerar de aumento nas receitas do estádio, com ampliação de bilheteria, possibilidade de novos eventos menores, etc.?

Essa é a conta que deve ser feita para entender se vai ser uma operação ganha-ganha. Provavelmente essa conta somente será aberta quando a reforma já estiver concluída.

 

Naming rights

“É difícil a marca de uma empresa de celular, de carro, vingar no nome do Morumbi. 

Pensamos em Morumbic, Morumbig, tudo para negociar o nome sem perder a nossa essência. E fizemos a proposta para a Mondelez.

Não posso falar de valores, mas [...] foi a maior já realizada, proporcionalmente.

E a resposta foi tão grande que eu já vou até sentar com os empresários daqui a um ano e dizer: “Vamos prorrogar esse contrato, em outras bases?” Até o metrô anuncia a estação como ‘Morumbis’.”

 

Achamos excelente a iniciativa do São Paulo de realizar uma procura ativa por parceiros, especialmente considerando que a negociação de naming rights é mais difícil em um estádio com nome já consolidado perante o público. Se o clube ficasse esperando, provavelmente seguiríamos sem nenhum contrato e sem essa fonte importante de receita. Bola dentro da gestão!

Contudo, novamente se fala em “maior já realizada” em termos de valor, mas sem abrir números. Especula-se entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões por ano. Mas o Allianz Parque rendeu ao Palmeiras, após reajustes pela inflação, valor próximo R$ 27,5 milhões em 2023. 

Entendemos a questão de sigilo de contrato, mas, assim como a presidente do Palmeiras fez recentemente, o São Paulo poderia abrir o contrato apenas para que algum jornalista imparcial confirme esse “maior valor”. Senão, seguiremos com o pé atrás sobre o valor até a publicação do balanço, e caso esse valor seja detalhado em tal documento, senão continuaremos sem saber os valores exatos do acordo.

Quanto à possibilidade de renovação, também entendemos como positiva. O período inicial de 3 anos foi um teste, uma vez que se precisava analisar a aceitação do novo nome em um estádio já consolidado. E o nome já pegou. 

Em uma renovação por um período mais longo (20 ou 30 anos, como normalmente acontece com naming rights), precisaremos ter algumas cautelas como: (i) possível valorização do estádio com a reforma; e (ii) possível valorização do produto do futebol brasileiro com eventual formação de liga em um futuro próximo. Isso precisa estar previsto em cláusulas próprias para não termos um contrato defasado daqui a 15/20 anos.

 

Shows e Live Nation

“No esquema de shows, [...] o Allianz Parque pegou todo esse mercado. Decidimos voltar ao roteiro.

E o que posso oferecer? Preço. Porque o Allianz tem que pagar o investimento que fez. Eu não preciso mais. Se eles cobram R$ 1,5 milhão, eu posso cobrar R$ 1,2 milhão”.

 

É extremamente importante que o clube volte ao roteiro de shows, o que representa um potencial relevante de receita para o clube.

Nesse sentido, vemos como bons olhos o contrato de exclusividade válido por cinco anos assinado com a Live Nation, uma das maiores produtoras do mundo e que agencia estrelas como Madonna, U2, Beyoncé, Lady Gaga, Jonas Brothers e Coldplay, para shows no estádio. Pelo contrato, o São Paulo receberia R$ 60 milhões fixos, além de percentuais da venda de alimentos, bebidas, roupas e acessórios nas dependências do estádio.

Melhor ainda que aparentemente o clube terá direito de veto a datas para não prejudicar o futebol.

Mas o próprio presidente menciona que o que pode oferecer de positivo em relação ao Allianz Parque é o preço, pois não precisa pagar o investimento.

Como isso ficaria com a reforma do estádio feita com o apoio de um parceiro? O MorumBIS perderá esse atrativo de preço? Pois, como vimos anteriormente, o retorno do investidor será inclusive pela receita de shows. Ou a reforma aumentará o potencial de receita pela realização de eventos menores no anfiteatro, aumento de capacidade de público, etc., compensando esse efeito?

Essas perguntas ficam no ar com a entrevista do presidente Julio Casares.

 

Dívida e Atrasos

“Se tudo der certo, a partir de abril vamos reestruturar e alongar a dívida, captar recursos em melhores condições e tentar um deságio”. (Julio Casares)

“Hoje não há atraso. Zero atraso. Mas possivelmente durante a temporada, nós teremos de novo, porque é questão de fluxo de caixa. E é natural. O primeiro semestre é muito mais difícil para nós, porque os campeonatos que nos dão mais receita rápida começam em abril, Campeonato Brasileiro”. (Carlos Belmonte, em janeiro/2024, em entrevista para o Bola da Vez da ESPN, tratando de atraso de direitos de imagem)

 

Há inúmeras declarações desde a posse do presidente Julio Casares falando de mudança do perfil da dívida e alongamento da dívida. Esse processo é extremamente positivo, trocando uma dívida com juros altos e vencimento no curto prazo para uma dívida a ser paga em longo prazo (com valores menores de prestações) e com juros mais baixos.

Contudo, como esse discurso de alongamento de dívida está presente desde o início da gestão, em 2021, entendíamos que o processo já estava em curso. Essa foi uma das nossas maiores decepções ao analisar o último balanço e ver que a dívida bancária de curto prazo teve crescimento significativo (em 31/12/2021, a dívida bancária era de R$ 189 milhões, com 35% vencendo no prazo de 12 meses, enquanto que em 31/12/2022 passou a ser de R$ 204 milhões, com 58% de vencimento no prazo de 12 meses).

Pela declaração de agora, provavelmente teremos uma nova decepção no balanço a ser publicado em abril/2024 em relação a esse ponto, mas esperamos que finalmente essa reformulação seja feita como prometido, agora que o clube tem mais credibilidade no mercado e novas receitas para oferecer como garantia. Ficaremos de olho, mas infelizmente somente conseguiremos ter uma noção sobre os efeitos da implementação desse plano em abril/2025, com a publicação do balanço referente a 2024!

E esperamos que essa reformação permita que uma melhora no fluxo de caixa do São Paulo e que os atrasos em direito de imagem não sejam mais uma realidade para um clube da grandeza do São Paulo. Nesse sentido, a declaração do diretor de futebol de que isso é “natural” nos causa enorme preocupação, pois isso jamais poderia ser normalizado.


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Dentre os grandes, és o primeiro!

Escrito por: Filipe Lessa

Revisado por: Filipe Cunha

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